Memória viva!
O MAIS – Centro de Memória de Artistas LGBTQIAPN+ no Interior de São Paulo é uma iniciativa voltada à valorização, ativação e preservação das memórias culturais e artísticas da população LGBTQIAPN+ em cidades do interior paulista. Estruturado sobre quatro pilares — memória, arte, identidade e sustentabilidade —, o projeto nasce como uma resposta ao apagamento histórico da diversidade sexual e de gênero nas políticas de patrimônio cultural, nos acervos e nos espaços públicos, propondo ações de reparação simbólica e fortalecimento comunitário.
O percurso inicial do projeto aconteceu a partir de investigações acadêmicas e da prática curatorial de Rafa Cavalheri, artista e designer de moda, nascido em José Bonifácio, no interior de SP. As pesquisas que gestaram o MAIS, iniciadas em 2022, constataram a ausência de mapeamento da memória da comunidade artística LGBTQIAPN+ no interior do estado de SP. Essa lacuna, já evidente nas instituições dos grandes centros urbanos, revela-se ainda mais problemática e profunda no contexto do interior do estado, onde o desmonte e a opressão em relação à comunidade são mais intensos.
Em 2023, contemplado pelo Edital de Aprimoramento Artístico da Lei Paulo Gustavo – SP (LPG/SP - 23/2023), Rafa realizou uma complexa pesquisa em instituições museológicas no interior do estado e na capital paulista. Esse processo envolveu escutas, investigações e visitas técnicas a museus e arquivos, resultando em reflexões e intuições fundamentais, que deram início ao movimento de criação do atual Centro de Memória — o qual caminha para se tornar um Museu Comunitário. Nesse processo, o artista recolheu informações, documentou trajetórias, e produziu, assim, um arquivo que se constitui como a memória viva de artistas, obras e atividades da comunidade LGBTQIAPN+ na região.
Em 2024, a participação do artista como um dos pontos focais da Revisão da Política Nacional de Educação Museal (PNEM – Portaria Ibram nº 2.976, de 1º de julho de 2024) fortaleceu esse processo de escuta e articulação com diferentes redes e museologias, tanto institucionais quanto comunitárias, em âmbito nacional. Essa carente e significativa ausência de documentação e visibilidade da comunidade LGBTQIAPN+ nos acervos em todo o Brasil ficou ainda mais evidente.
O ano de 2024 é o marco do início da formalização do MAIS como Centro de Memória (a caminho de se tornar museu comunitário), que se estrutura inicialmente em formato virtual. A consolidação do projeto contou com o apoio de Graziela Zanin Kronka — jornalista, linguista e pesquisadora envolvida há quase trinta anos com investigações e discussões ligadas à comunidade LGBTQIAPN+ — e com um projeto contemplado por um edital estadual, PROAC 15/2025, voltado ao fortalecimento da cultura LGBTQIAPN+, o que possibilitou a formação de equipe e a estruturação das ações com foco na continuidade e sustentabilidade do projeto.
Mais do que um Centro de Memória - em vias de se tornar um Museu Comunitário -, o MAIS é uma plataforma de resistência, educação e transformação, que amplia os debates, as redes e os conceitos de produção artística, de identidade e da própria interseccionalidade da comunidade, abordando questões que vão além dos gêneros e alcançam seus territórios — incluindo identidades dissidentes georreferenciadas e expandindo o campo da memória e da cultura para além dos recortes hegemônicos. O MAIS desbrava territórios subestimados pelo apagamento das políticas públicas, das curadorias e das instituições artístico-culturais, reafirmando a plasticidade da comunidade para além das formas artísticas e dos limites que lhe são impostos, e em direção à autenticidade das nossas características e identidades.
O território, aqui, é compreendido como chão simbólico, físico e político, onde a memória LGBTQIAPN+ se articula por meio de rotas, fluxos, afetos e produções culturais que afirmam, preservam e insistem em compartilhar e perpetuar nossas histórias. Por meio de diferentes ações que mantêm o acervo vivo, promovemos tanto a documentação quanto a valorização das pessoas artistas do interior de São Paulo.


O que nos move
Princípios
I – Promoção da dignidade humana, dos direitos culturais e patrimoniais, e da cidadania plena das pessoas LGBTQIAPN+;
II – Respeito à liberdade de expressão, à autonomia dos corpos e à diversidade de identidades, saberes e territórios;
III – Valorização e preservação das narrativas dissidentes;
IV – Reconhecimento das práticas museológicas comunitárias como ferramentas de justiça social, reparação histórica, fortalecimento de vínculos e transformação sociocultural;
V – Compromisso com a participação comunitária, a gestão compartilhada, a escuta e a construção horizontal de saberes e práticas;
VI – Atuação em rede com outras iniciativas, coletivos, museus, movimentos e instituições.
